1 de mar. de 2011

#17 LETTER TO SOMEONE FROM YOUR CHILDHOOD

Bruna,
Não sei a data exacta do dia que nos conhecemos. Não sei quantos anos tínhamos. Não me lembro da primeira vez que te vi. Foi há quanto tempo mesmo? Doze anos? Provavelmente… As nossas mães trabalhavam juntas e eras a melhor amiga da minha irmã. Típico.
Tens mais três anos do que eu, mas sempre nos tratamos como se fossemos da mesma idade.
Lembro-me de irmos para a janela cá de casa rirmo-nos com o homem das cenouras. Lembro-me das tentativas de fazer almoços, em que a Loira queimava guardanapos. Lembro-me de dormir encostada a ti no carro. Lembro-me de criarmos as nossas próprias histórias e alterar o guião. Lembro-me da minha mãe ralhar comigo por eu te ter chamado Bruna Pina (juro que não foi por mal). Lembro-me das milhares de gargalhadas que demos que nos fizeram doer a barriga. Lembro-me de comermos cerejas juntas. Lembro-me das idas a Espanha, ao Gerês e afins. Lembro-me das (muitas) noites em que dormiste comigo. Lembro-me das brincadeiras que tínhamos. Lembro-me das fotos super cómicas. Lembro-me de acamparmos juntas. Vidas incoentes…
 
Depois…crescemos. Ficaste sempre ao meu lado, tal como uma irmã. Depois disso, lembro-me dos desabafos. Lembro-me das conversas deprimentes sobre rapazes. Lembro-me dos almoços e dos jantares de aniversário. Lembro-me que a primeira vez que bebi foi contigo. Lembro-me da primeira vez em que fiquei alegre: foi contigo. Lembro-me das saídas à noite. Lembro-me da primeira vez que fui ao Buddha: foi contigo. Lembro-me dos passeios em que falávamos sobre tudo e sobre nada, horas a fio. Lembro-me das gargalhadas na praia. Lembro-me da (enorme) união do nosso grupo. Lembro-me das idas ao cinema. Lembro-me da primeira vez em que andei contigo de carro. Lembro-me quando vieste cá a casa comer crepes.

Conheces-me tal e qual te conheço a ti: tão bem!
Desculpa as vezes em que te falhei, as vezes em que não te segurei e te deixei cair. Desculpa quando não usei as palavras certas nos momentos certos. Desculpa as discussões que nos levaram à quadratura do círculo. Espero que percebas, mais tarde, que tudo aquilo que fiz foi para o teu bem!
Amo-te sisi ♥

28 de fev. de 2011

#16 LETTER TO SOMEONE THAT'S NOT IN YOUR CITY OR COUNTRY

Priminhos,
Estamos separados pelo oceano, por milhares de quilómetros.
Lembro-me de vos pegar ao colo. Lembro-me dos vossos sorrisos. Lembro-me da forma como faziam os meus olhos brilharem. Lembro-me da forma perfeita com que as vossas mãozinhas pequeninas apertavam o meu dedo mindinho. Lembro-me das lágrimas de saudade. Lembro-me do orgulho que sentia. Lembro-me das vossas birras. Lembro-me das fotografias engraçadas. Lembro-me das brincadeiras: dos desenhos, das bonecas, dos carrinhos, das bolas, do trampolim, das corridas, das cartas,… 


Mas vocês cresceram. Cresceram tanto e tão depressa.
Nelson, és uma criança tão simples, tão querida, tão amorosa. Adoro quando me abraças e me apertas com força. Adoro quando sorris e me dás a mão.
Vanessa, o avô quando vê fotos tuas, confunde-te comigo. Adoro quando dizem que és igual a mim quando eu era pequena, deixas-me tão orgulhosa. És a prima mais linda do mundo. 
Diego, és um miúdo tão lindo! Quando cresceres vais ter montes de meninas atrás de ti, sabes? 


Gostava de vos ver todos os dias. Gostava de vos abraçar sempre que me desse vontade. Gostava de brincar convosco dia e noite. Gostava de vos dar a mão e proteger-vos sempre. Gostava de estar convosco agora e matar as milhares de saudades que tenho vossas.
Tenham juízinho e nunca se esqueçam que eu gosto super hiper mega muito de vocês ♥
P.S. Espero por vocês este Verão! Tios, também tenho muitas saudades vossas :)
(Dava muito trabalho escrever tudo isto em inglês, peço desculpa.)

27 de fev. de 2011

Há muitos tipos de corações.


«Há muitos tipos de corações. Há corações pequenos e tímidos, há corações grandes e abertos, há corações onde é preciso meter requerimentos de papel azul e selo de garantia para abrirem as portas e outros cheios de janelas, frescos e arejados. Há corações com trancas, segredos e sistema de alarme que são como cofres de bancos. Corações sombrios e desconfiados, com fechaduras secretas e portas falsas. Corações que parecem simples, mas quando se entra lá dentro, espera-nos o mais perverso dos labirintos. E há corações que são como jardins públicos, onde pessoas de todas as idades podem entrar e descansar. Há corações que são como casas antigas, cheios de mistérios e fantasmas, com jardins secretos e sótãos poeirentos, carregados de memórias e recordações e há corações simples e fáceis de conhecer, descontraídos e leves, sempre em férias como tendas de campismo. Há corações viajantes, temerários e corajosos, como barcos à vela que nos parecem bonitos ao longe, mas que nos deixam sempre na boca o sabor amargo de nunca os conseguirmos abarcar... Há corações missionários, despojados e enormes. Há corações que são paquetes de luxo, onde o requinte é a palavra-chave para baterem... Há corações que são como borboletas e voam de um lado para o outro sem parar, numa pressa ansiosa de viver tudo antes que a vida se acabe.
Há corações que são como elefantes do zoo, muito grandes, pacíficos e passivos que aceitam viver limitados pelos outros e que até tocam o sino se os tratarmos bem e lhes dermos mimos e corações aventureiros, sempre prontos para partir em difíceis expedições e se ultrapassarem a si mesmos. Há corações rebeldes e selvagens que não suportam laços nem correntes, corações que correm tão depressa como chitas e matam como leoas, e depois há corações gnus, que sabem que vão ser caçados mas não fogem ao seu destino...
Há corações que são como rosas, caprichosas e cheios de espinhos e outros que são campainhas, simplórios e carentes sempre a chamar por afecto. Há corações que são como girassóis, rodando as suas paixões ao sabor do brilho e da glória e corações como batata-doce, que só crescem e se alimentam se estiverem bem guardados e escondidos debaixo da terra.
Há corações que são como pianos, altivos e majestosos onde só tocam os que possuem a arte de bem seduzir. E corações como harpas, onde uma simples festa provoca uma sinfonia.
Há corações incondicionais que vivem tão maravilhados em descobrir a grandeza de outros corações que às vezes se esquecem de si próprios... Há corações estrategas, que batem ao ritmo de esquemas e planos, corações transgressores que vivem para amar clandestinamente e só sabem desejar o proibido e corações conservadores, que só se entregam quando tudo é de acordo com os seus padrões e valores.
Há corações a motor, que vivem só para o trabalho e corações poetas só se alimentam de sonhos e ilusões. Há corações teatrais, para quem a vida é uma comédia ou uma tragédia e corações cinéfilos que registam a beleza de cada momento em frames de paixão.
Há corações duros como aço, sem arritmias, onde nada risca e faz mossa e corações de plasticina que se moldam às formas dos corações que amam. Há corações de papel, bonitos e frágeis que se amachucam facilmente e desbotam à primeira lágrima, há corações de vidro que quando se estilhaçam nunca mais se recompõem e corações de porcelana que depois de se partirem ainda sabem colar os destroços e começar de novo.
Há corações orientais, espiritualizados e serenos e corações ocidentais hedonistas e ambiciosos, corações britânicos onde tudo é meticulosamente arrumado segundo costumes e convenções, latinos que batem ao som da paixão e da loucura.
Há corações de uma só porta que são como grandes casas de família e outros de duas portas, uma para a sociedade e outra para a intimidade. Há corações que são como conventos, silenciosos e enclausurados e outros que são como hotéis, onde se paga o amor sem amor, escandalosos e promíscuos. Há corações parasitas, que vivem do afecto dos outros sem nada dar e corações dadores que só são felizes na entrega.
Mas há ainda uma ou outra espécie de corações, os corações hospedeiros que sabem receber e fazem sentir os outros corações como se estivessem em casa, que dão e aceitam amor sem se fixarem, que tratam cada passageiro como se fosse o último, enquanto procuram o coração gémeo, sempre na esperança, secreta e nunca perdida de um dia deixarem de viajar e sossegarem para a vida.»
                                                                                                                                                     
O teu coração é uma mistura de tudo isto ao mesmo tempo. A cada dia mostras-me um diferente, um mais complexo. Gosto de ti por isso. Gosto de ti até por complicares tudo aquilo que é tão fácil. Gosto de ti porque és tu. Gosto de ti porque…sim.